domingo, 7 de março de 2010

Caixa Preta



 Era uma pequena caixa preta, mas não um preto qualquer, e sim um preto profundo e luminoso. Parecia sozinha naquela estante, parecia não, realmente ela estava só, transmitindo solidão.
  - O que faz uma caixa sozinha em uma estante tão grande?- Pensou José.
 Tá, deixa a caixa pra lá, era um objeto estranho sim, mas não chamava a atenção para si, tamanha era a tristeza que transmitia. José deu alguns passos passando pelo corredor, olhou para os lados a ver se não vinha alguém  – passara um sufoco, pois ouvia barulhos – mas não era nada. Despreocupado, entrou em outro quarto. Deixou a timidez de lado, e disse para si mesmo:
 - Meu Deus, que casa mais estranha!
  O que viu foi uma grande... como posso descrever? Até José saltara quando viu aquela enorme cama. Era um cubo preto, um preto opaco, do tamanho da cama dos seus pais, - como depois contou para seus amigos. Resolveu então experimentar, porque nunca tinha visto antes tamanha cama. Deu uns pulinhos e com muito esforço conseguiu subir. Realmente não deixava de ser confortável!
  - Hum, que gostoso! Acho que vou tirar um cochilo aqui, Maria está demorando muito, da próxima vez espero-a lá embaixo como sempre fiz, não fui com a cara dessa casa.
  Deitou, demorou um pouquinho para pegar no sono, pois não era acostumado dormir sem travesseiro, mesmo sendo confortável a incrível cama preta era fina, e sentia a madeira que vinha logo por baixo do estofamento.
  Maria, já pronta, deu uma última olhada no espelho, virou para o lado para se ver de perfil, levantou o busto e encolheu o estômago, viu se estava tudo em seu devido lugar, deu o último retoque na maquiagem, passou o batom, colocou os sapatos e saiu do banheiro.
  - José! José! Estou pronta amor! Vamos se não perderemos a hora, não podemos chegar atrasados.
 José logo acordou com os gritos de Maria, desceu da cama e foi direto para a sala onde estava Maria.
  - Linda amor, você está perfeita. Mas você acha que esse vestido escuro vai chamar atenção?
  - Não sei José, você acha que devo trocá-lo? Um rosa choque talvez? O que você diria?
 - Maria... Maria, sempre sarcástica, tudo bem vá com esse mesmo, não temos que chamar atenção mesmo.
 - Então vamos.
 Pegaram o elevador, passaram pela portaria cumprimentando João, atravessaram a rua, e entraram no carro, desses importados todo escuro.  Maria, já confortável sentada no banco de couro, não perdia nenhum detalhe do interior do veículo com seus olhos curiosos, já tinha andado várias vezes com José, mas esse carro era novidade para ela. Parou e olhou um ponto fixo, eram dois dados pretos que estavam dependurados no retrovisor.
  - Maria, o que é aquele cubo estofado em seu quarto, é uma cama mesmo?
  - É sim, não fique preocupado, você não é o único que pergunta isso. Ganhei do meu ex-namorado.
 - Nossa, que presente para se dar para uma namorada, hein!
  - Se não se importa, não gosto de falar de casos anteriores, obrigado.
  - Ah, eu já gosto de ouvir essas historias de ex. Mas tudo bem, se não quer, não toco mais nesse assunto, mas que é estranha aquela cama é.
 - Verdade.
  José deu a partida e acelerou. Durante o trajeto os dois não trocaram nenhuma palavras, Maria só se mexeu para ajeitar os sapatos que a incomodava, José atendeu alguns telefonemas enquanto dirigia, preocupava-se em diminuir o tom de voz enquanto falava ao telefone.
  Finalmente chegaram na festa. Estavam presentes todos os seus amigos e parentes, mas todos estranhos para Maria.
 Com um sorriso forçado e um olhar vago ela tentava cumprimentar todos, procurou um lugar vazio tirou um pó do bolso e passou no rosto. Logo chegou uma senhora já de idade, com uma feição toda alegre:
   - Nem estou acreditando que finalmente conheci a grande Maria que meu filho tanto fala.
  - Pois é, que engraçado, porque ele nunca me disse da senhora. Mas foi um prazer conhecê-la
 Saiu disfarçadamente da presença da mãe de José, e se assentou, não aguentava mais ouvir: “Se deu bem, em José”, “Hum, essa que é a Maria José”.
  Logo depois José foi para dentro da casa e voltou com um embrulho na mão, era uma pequena e simples caixa preta.

Texto escrito por Garon Piceli em 2005

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A megalomaníaca cultura imperialista


Ambientes se tornam cada vez mais voltados à imposição de valores, dinheiro vira o centro da vida, e os bons e velhos costumes, como o de falar sobre a vida alheia, vão ficando para trás. O cult agora é ler velharias e ouvir Bossa Nova

Gary*

Chega de diplomacia nestas humildes linhas. Vamos partir agora à realidade de como funciona a maquina da cultura medíocre em nossa sociedade.

É uma indústria que monopoliza a vida humana, é o caminho real que tenta se tornar irreal para pegar tolos, gregos e troianos. Porque gosto das alternativas? Somente para fugir da cultura imperialista que tenta capturar com seus dentes deglutidores de sangue, lágrimas e gostos pessoais.

Vai desde o compositor, e para falar a verdade isso sempre bem aconteceu. É o quarto poder tomando conta dos primeiros. Estranho eu comentar sobre isso, já que tecnicamente estou inserido nele, mas é por isso, por conhecer um pouco da realidade de como funciona o caminhar dentro de uma redação de jornalismo que me irrito cada vez mais com a praticidade de como está a situação catastrófica que se tornou.

No começo jogava na ponta esquerda, aqueles que nunca defenderiam a situação. Isso no começo. Logo me decepcionei com os companheiros e passei a atuar na esquerda liberal, defendendo todo e qualquer tipo de cultura que mantivesse uma posição de manifestação. Agora estou somente na esquerda mantendo-me em um local privilegiado, o de xingar sem compromisso. E é esse o melhor lugar que posso estar. Agora, voltando a minha suposição de que, toda cultura é imperialista, salvo exceções, que são verdadeiros exemplos na vida urbana acostumada a impor costumes, de algo muito parecido ao Creative Commons. Onde o dono permite o uso de seus direitos autorias, porém obriga que coloque a fonte. Disse: sou de esquerda, porém os esquerdistas precisam se sustentar. Nem sempre o idealismo fala mais forte, não é? E é aí que entra o imperialismo, dominando as nossas vidas e entregando prêmios Nouvelle Vague (leia-se Nobel da paz) todos os dias.

*Garon Piceli está no Twitter, lá ele é encontrado como @garonphn, é estudande de jornalismo e as vezes escreve o que lhe vem à telha, como neste post, por exemplo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Quando me esqueci de C.S. Lewis

Não há nada melhor que ler Lewis e ouvir Brooke, as vezes, até altas horas da madrugada. Os seus conselhos são puros e sua voz é rouca.
Ele me ensinou o amor verdadeiro, ela a canção pura.
Suas aventuras me levavam o alto mar.
Seus versos, refrões e estrofes, confesso não conseguia enxergar outros sinais.
Mas um dia, meu mundo caiu..
Esqueci que ele existia e com ele as musicas esvaeceram, sumiram.
Agora ele vai embora e eu volto as suas palavras e as músicas que me trouxeram aqui.